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Roger Responde 206 – Judas era um traidor? Jesus o persuadiu a cometer traição?

206 – Pergunta (25/11/2013): Oi Roger, frequentemente se fala em “discípulo traidor” quando se toca no nome Judas Iscariotes. Sempre relutei em admitir as teorias dele trocar a vida do Rabi por 30 moedas de ouro meramente movido por ganância pessoal, pois acho simplesmente que ele foi infantilmente iludido pelo sinédrio. Na verdade imagino que a “troca” pelas moedas se deu pela vontade de Judas em ver o Rabi materialmente como Rei da Judéia derrotando o jugo romano… Em outras palavras, Judas, como encarregado pela bolsa que continha as moedas dos apóstolos, não compreendeu que o Reino era Mental, e não deste mundo… Também gostaria que você mencionasse a passagem em que Jesus, na última ceia, confirma a um discípulo que seria alvo de traição, para cumprimento das profecias. Gostaria de saber a sua opinião a respeito destes fatos repletos de discriminação e mal entendimentos. Um abraço e aguardo seu próximo livro!!!

Roger: Como já revelamos em outras oportunidades, escreveremos no futuro uma série de livros sobre a importante missão de Jesus trazendo a mensagem do Cristo ao mundo ocidental. Certamente nesse trabalho serão desmistificados vários momentos da vida do grande mestre que foram distorcidos por tentativas, muitas vezes infantis, de divinizar Jesus através de feitos sobrenaturais, como nascer de uma virgem, andar sobre as águas, subir aos céus, criar situações que comprovavam profecias do Velho Testamento etc.

No caso de Judas Iscariotes, percebe-se facilmente que Jesus jamais o identificaria como um traidor na santa ceia. Isso seria um pré-julgamento que viria a torná-lo uma personalidade odiosa pelos séculos futuros, como realmente ocorreu. Jesus não faria isso com um irmão que lhe seguia os passos e tanto lhe amava, mesmo que ele realmente viesse a lhe trair. Este gesto seria uma negação do amor e perdão que ele ensinou-nos com tanta maestria. Jesus sabia das intenções revolucionárias de Judas, mas não interpretou o seu gesto como traição, mas sim como uma ingênua e passageira ilusão com relação aos poderes materiais.

Judas sonhava com a vitória no reino dos homens, Jesus difundia a mensagem do reino dos Céus. Judas sabia dessa diferenciação. Todavia, os prodígios que Jesus realizava poderiam libertar Israel do jugo romano. Era algo muito tentador. E aos olhos de um zelote nacionalista como ele, parecia justo e certo colocar Jesus em uma situação em que seria obrigado a impor os seus poderes sobre Roma. Por que Jesus não poderia ser líder espiritual e político, já que o reino de Deus descia sobre a Terra através das mãos de Jesus? Basta ler toda a história de Israel, desde Abraão, Isaac e Jacó para perceber que este era o grande sonho do povo hebreu desde sempre. As ambições de Judas se baseavam nas próprias profecias do Velho Testamento que difundiam a ideia de um messias guerreiro que libertaria Israel.

Infelizmente, as gerações futuras, através da Igreja, condenaram Judas de forma cruel e desumana. Esta é uma energia negativa de reprovação e ódio que pesa nos ombros deste irmão até hoje. Fala-se tanto em perdão no meio religioso, mas Judas foi julgado e condenado até os dias de hoje pela humanidade, sem perdão e benevolência. E o pior: de forma injusta. Criaram uma imagem suja e negativa de sua personalidade. Ele não traiu Jesus. Apenas desejava a glória de seu mestre perante Roma. Jamais se preocupou com as míseras moedas que lhe foram pagas (pois nunca as pediu). Judas era o discípulo mais rico de Jesus. Não precisava vender o mestre por dinheiro. Ele fez o que fez por idealismo e amor ao mestre. Tanto que depois de perceber que Jesus não revidaria ao ataque de seus algozes, cambaleou desesperado até uma árvore e nela se enforcou, decepcionado consigo mesmo e com a sua atitude equivocada.

Tudo na vida tem um propósito. Mas Judas não agiu assim sob as ordens de Jesus. O mestre jamais traria tal peso às costas de um de seus irmãos. Judas Iscariotes errou tanto como os demais discípulos, que também não eram perfeitos. O título de santo não cabe a nenhum deles. Todos eram homens normais, de bem, buscando crescer e evoluir. Mas estavam longe do absoluto e perfeito caráter de Jesus.

No início da era Cristã existiam dezenas de correntes do Cristianismo que resultaram em dezenas de Evangelhos. Cada grupo tinha uma visão e um entendimento diferenciado sobre qual foi a mensagem do Cristo trazida por intermédio de Jesus. Desta forma, o homem excepcional que foi Jesus terminou sendo comparado de forma absurda ao próprio Deus Criador, perdendo a magia pura e simples de sua missão, assim como também ocorreu com Moisés.