180 – Pergunta (27/05/2013): Olá Roger! Li seu livro Universalismo Crístico. Uma coisa que gostaria de falar é sobre a impressão que tive lendo as suas respostas na coluna “Roger responde”! Seu modo de falar sobre alguns assuntos me pareceu muito indiferente e frio, como se não existisse tantas coisas ruins na Terra ou como se não fosse problema nosso nos preocuparmos com isso, tipo é um Karma da pessoa e pronto. E é exatamente o que acontece com muitos espiritualistas, se tornam indiferentes as dificuldades alheias e alguns se julgam “escolhidos”. Bom, me desculpe se estou sendo injusta com você, é uma sensação que tenho. Tem um texto do Wagner Borges que gosto muito e gostaria de repassar. – Por Frank – Todo mundo pode se tornar um iniciado espiritual, mas nem todos conseguem resistir ás armadilhas da matéria, e não são poucos os que sucumbem à vaidade colocando a perder tudo aquilo que conquistaram. Esses tantos se inebriam com o júbilo do poder e, em lugar de emanarem ondas de compaixão, incorporam os tentáculos do ego exacerbado, que passam a guiar os seus passos e a ditar suas ações, ou seja, a luz lhes subiu à cabeça, sem fazer o necessário equilíbrio no coração. Quando isso ocorre – e acontece o tempo todo -, o trabalho é corrompido, e a jornada espiritual perde o seu destino, com o “iniciado” rodando em círculos no chão, feito pavão, em lugar de bater asas igual passarinho e voar… Por isso, devemos sempre praticar o “orai e vigiai”, não somente em relação às nossas atitudes com os outros “não-iniciados”, mas, principalmente, em relação a certos pensamentos que tentam nos convencer que temos uma missão a cumprir ou um dever a fazer. O melhor termômetro para medir se a luz começou a nos cegar é quando começamos a flertar com a ideia de sermos o “escolhido” e, com isso, nos aproximamos cada vez mais de um desequilíbrio que pode acabar com o nosso círculo de amigos, afastar familiares e provocar distúrbios psíquicos que levarão, talvez, diversas vidas para serem curados.
Roger: Gosto muito do Wagner Borges. Nos congressos que participamos juntos no RJ ele sempre foi uma pessoa generosa e fraterna. Ao contrário do que comumente acontece, nunca se comportou como estrela. E este texto dele é ótimo. Ainda bem que não me coloco como o “escolhido”. Pelo contrário, talvez seja o único escritor espiritualista que mostra verdadeiramente o seu próprio lado negativo, sem pudores. Não tenho ilusões quanto a isto. Basta ler o livro “Universalismo Crístico Avançado” para constatar o que falo. E quem leu todos os nossos 10 livros percebe que a seção “Roger Responde” é mais informativa. A “alma” de nosso trabalho está nos livros. Além disto, quem foi na viagem a Machu Picchu comigo pode perceber que a última coisa que quero é ser guru de alguém. Não gosto dessa posição de destaque e não me proponho a esse jogo de egos e vaidades que é citado no texto acima. Na verdade, preferiria somente escrever os livros e não ter que lidar com toda essa confusão que fazem em cima de algo que é tão simples. Para buscar a verdadeira espiritualidade é necessário apenas de autoconhecimento, entender/aceitar as limitações de nossos semelhantes e viver dentro da máxima “ama ao teu próximo como a ti mesmo e não faça aos outros aquilo que não gostaria que te fizessem”. O resto são discursos que pouco acrescentam em nossa instigante jornada para nos tornarmos pessoas melhores.
Com relação a eu falar sobre os assuntos de forma fria e indiferente, sem compaixão… A minha função na seção Roger Responde e nos livros é a de auxiliar os mentores espirituais a educar almas. Esta é a tarefa que Hermes e a Alta Espiritualidade delegaram a mim. A verdade deve ser colocada de forma clara, para que todos possam aprender com ela e evoluir. Já a compaixão é algo ligado à vivência, ao dia a dia. Por exemplo, a tragédia que ocorreu na boate Kiss em Santa Maria em fevereiro deste ano e que respondemos na pergunta 164 do dia 04/02/2013. Naquele momento, não nos cabia julgar diretamente os fatos, mas sim demonstrar compaixão para com as vítimas e familiares daquele triste episódio. Contudo, como educador, temos que avaliar todos os fatores espirituais e comportamentais de nossa sociedade que alimentaram aquela sinistra égregora fazendo com que aquela tragédia ganhasse corpo e forma. Nada acontece por acaso. Por isso, devemos sempre analisar e avaliar cada passo que damos em nossa vida, de forma individual e conjunta, pois somos todos um. Estamos interligados.
A atitude de sempre colocar “panos quentes” sobre os erros, justificando-os, muitas vezes da forma mais insensata possível, não educa as pessoas e as impede de evoluir. Outro exemplo que acho importante: condenar o fumo e as drogas. Não podemos ser complacentes com esse mau hábito coletivo que gera uma despesa assombrosa ao sistema de saúde e onera de forma exaustiva as equipes espirituais de socorro dos planos mais densos, simplesmente alegando sentimento de compaixão pelos drogados. Devemos poupar os drogados (entre eles incluo os fumantes) de constrangimentos individuais, não devemos expô-los a atos humilhantes, mas combater incessantemente estes hábitos perniciosos de forma geral em nossa sociedade. É isso que fazemos. Não criticamos indivíduos, mas sim comportamentos coletivos equivocados.
Quem escreveu essa pergunta, não me conhece no contato diário com as pessoas, e, portanto, faz um juízo de que o “Roger pessoa física” age da forma como o “Roger pessoa jurídica” responde. Às vezes é apenas uma questão de má interpretação ou de eu ter me expressado mal, passando uma impressão de frieza. Sem contar que, quando falo nesse site, falo em nome do projeto Universalismo Crístico e da Espiritualidade. Sem dúvida, como abordamos insistentemente em nosso último livro, a humanidade precisa ser educada com valores espirituais urgentemente. Enquanto tivermos discursos de compaixão para tudo, em vez de dirigirmos um sério olhar para o comportamento desregrado e anticrístico dos dias atuais, nada mudará. A sociedade consumista e vaidosa dos dias atuais está destruindo os bons valores construídos com o árduo trabalho dos grandes mestres espirituais, como Jesus. Deixem qualquer objeto de valor sobre uma mesa e vejam se não será roubado em poucos minutos, até mesmo por pessoas que não precisam fazer isso para sobreviver, sob a alegação de que encontraram o objeto “perdido na rua”.
Amigos, por favor, não confundam amor com permissividade. Amor não é ser meigo e querido com tudo e todos. Muitas vezes abrindo mão de educar somente para ser simpático. Amar é abrir os olhos de nossos irmãos, convidando-os ao despertar, procurando sempre ser gentil e educado, mas sem esquivar-se da verdade. Apontar claramente o quanto aquele rumo que se está tomando vai ser prejudicial no futuro, em vez de somente demonstrar uma compaixão, que sem dúvida é uma das maiores virtudes, mas que pode ser prejudicial quando aplicada em momento errado. Jesus, verdadeira personificação do amor, demonstrou também profundo e verdadeiro amor ao repreender severamente os fariseus que desvirtuavam as sagradas escrituras.
Algumas pessoas ainda não compreenderam que a proposta do Universalismo Crístico é algo diferente do apelo religioso tradicional. A nossa função principal não é consolar almas que lamentam o seu sofrimento por não enxergarem o caminho de sua libertação. A nossa função, repito, é educar almas! E, para isso, algumas vezes, poderemos parecer frios e indiferentes; contudo, jamais omissos! Todavia, posso garantir-lhes que o nosso ideal é imbuído do mais puro sentimento de amor, talvez maior do que daqueles que praticam a compaixão por comodismo, em vez de ajudar aos seus irmãos a saírem do perigoso abismo em que se encontram.
O texto do Wagner Borges exposto na pergunta retrata o caso de quem caí por causa de arrogância e ego. Creio que isto não acontece comigo porque o “Roger pessoa física” despreza esse enaltecimento bobo que geralmente fazem com pessoas que estão apenas cumprindo a sua tarefa de esclarecimento espiritual da humanidade. Tarefa essa que foi delegada por carma, e não por ser um “escolhido”. Quem se crê um escolhido divino, não entende o momento evolutivo pelo qual passa a nossa humanidade. Não existem mais salvadores especiais. Todos nós estamos no mesmo barco.
Eu sinto que estou realizando o que me propus. As pessoas são diferentes. Algumas mais sensíveis, outras mais diretas e práticas. O que não podemos é ficar apenas dando “tapinhas nas costas” das pessoas, alegando amor, e relaxar no convite à reflexão e reforma interior. Autoconhecimento é necessário. Chega de vivermos um mundo de ilusões. Enquanto formos escravos desse modelo social vigente, mais cedo ou mais tarde, a dor nos visitará. Digo que isso acontecerá até mesmo para aqueles que seguem com fervor uma religiosidade formal, porém sem verdadeira reflexão.
Por fim, fiz uma autoanálise conforme sugere a última frase do texto de Wagner Borges e cheguei a conclusão de que a cada dia tenho mais amigos (os quais não julgo individualmente façam o que fizerem), meus familiares estão bem próximos (as vezes até demais) e creio que apesar da minha “loucura mediúnica” sou considerado um espiritualista muito lúcido e sensível com respeito as dores do mundo por meus colegas de trabalho, inclusive entre aqueles que não compartilham de nossas crenças espirituais.
Tive o prazer de participar ,com Roger e um grupo de pessoas muito especial, da viagem à Terra Santa em 2014. A chance de conviver com Roger, depois de ter lido todos os seus livros, me trouxe sentimentos de satisfação e surpresa. Satisfação, pela oportunidade única de privar da companhia de um autor de livros que me acompanham há anos e cujas idéias têm fundamentado a minha forma de enxergar a vida; surpresa, porque realmente não esperava encontrar aquele rapaz extremamente simples, que se misturava com o grupo, se divertia, tomava vinho, contava piada como qualquer outro participante da nossa viagem Em momento algum chamou para si a atenção ou se colocou em posição mais destacada. Nem guru, nem escolhido – simplesmente um espírito em evolução como todos nós, cumprindo uma missão árdua e de muita responsabilidade de uma forma admirável!