Christian Kieling, professor de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ganhou um reality show e vai liderar um dos maiores estudos sobre depressão do mundo.
Após ficar confinado por 72 horas em hotel em Londres, o time liderado por ele ganhou uma maratona de cientistas cujo prêmio era o financiamento para pesquisas.
O desafio era criar um projeto de saúde mental proposto pela organização britânica MQ. O prêmio oferecido foi de 1 milhão de libras, cerca de 4,3 milhões de reais.
A pesquisa
O trabalho busca identificar indivíduos em risco de desenvolver depressão na adolescência.
Além de Brasil e Reino Unido, o projeto também coletará informações na Nigéria e no Nepal, por meio de pesquisadores que se juntaram ao grupo durante o encontro na Inglaterra.
“Quando arriscamos, às vezes, corremos o risco de ganhar. Ao nosso lado havia uma mesa com pesquisadores de Harvard, de Yale, e eles ficaram em segundo lugar. Foi como ganhar um ouro olímpico em um esporte no qual o Brasil não tem tradição”, compara Kieling.
Só o braço brasileiro de pesquisa sobre depressão receberá do fundo britânico 10 vezes mais que edital de financiamento do CNPq.
“É impossível manter pesquisadores no Brasil com esses cortes”, aponta o físico da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Artaxo Netto, membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e considerado um dos cientistas brasileiros mais influentes do mundo pela Fundação Thomson Reuters.
Depressão em adolescentes
Intitulado IDEA, sigla em inglês para Identificando a Depressão Precocemente na Adolescência, o trabalho liderado por Kieling pretende criar uma abordagem individualizada para detectar jovens com risco de desenvolver a doença.
“Em vários estudos já foram testadas estratégias de prevenção universal, por exemplo, com programas dedicados a todos os alunos de uma escola. Infelizmente, os resultados dessas pesquisas mostram que isso não parece ter muito benefício, pois o efeito se dilui”, aponta.
Estudos de prevenção voltados a indivíduos com risco elevado, por outro lado, têm se mostrado mais eficazes.
Seleção
Jovens serão selecionados para estudo no Brasil, no Reino Unido, na Nigéria e no Nepal.
O novo estudo pretende selecionar inicialmente cem pacientes em Porto Alegre.
Composto por alunos da rede pública, o grupo será dividido em três: jovens com alta probabilidade de desenvolver depressão, um segundo grupo em que as chances são baixas em relação à população em geral e aqueles que já têm a doença.
O acompanhamento inclui exames de neuroimagem e coleta de sangue, para verificar marcadores inflamatórios que estariam relacionados à condição.
Conforme o estudo for avançando, os resultados dos quatro países envolvidos (Brasil, Reino Unido, Nigéria e Nepal) serão comparados para determinar o peso de fatores locais na equação.
Prevista para começar oficialmente em abril de 2018, a pesquisa tem duração inicial de dois anos.
“Queremos entender o fenômeno do surgimento da depressão, ainda no início da vida, para depois tentar reduzir seu impacto como a doença crônica que ela é”, diz Kieling.
Links para as notícias originais: http://www.bbc.com/portuguese/geral-41935911
http://www.sonoticiaboa.com.br/2017/11/13/brasileiro-vai-liderar-pesquisa-mundial-sobre-depressao-venceu-reality/