Uma jovem oferece um dedo de prosa a quem passa pela Avenida Paulista. Solitários ou em grupo, muitos pedestres aceitam o convite. Mariana Schettino, uma jovem de 22 anos, coloca à disposição do interlocutor uma cadeira de praia e um convidativo cartaz onde se lê: “Vamos conversar? Sente-se comigo!”
Capixaba de Vitória, ela mudou-se para São Paulo em dezembro de 2013. A chegada à selva metropolitana, depois de uma vida inteira no Espírito Santo, lhe causou estranhamento, sobretudo no convívio social. Antes de conseguir o atual emprego em uma empresa de sustentabilidade, Mariana andou bastante pela cidade. O que só lhe aflorou a sensação de que, em São Paulo, ninguém se olha. “Mesmo numa livraria, ninguém troca um olhar, uma palavra. Eu ficava ‘viajando’ nisso”, conta. “As pessoas não param para conversar umas com as outras, a não ser se for com alguém que você conhece, ou que te interesse de alguma forma, romântica ou profissionalmente.” Não que isso seja uma exclusividade paulistana: na maior cidade do Brasil, essa característica só ficaria mais evidente por ter gente demais. Ela crê que a era digital potencializa uma falsa sensação de conexão global, ao passo que a conexão verdadeira, “da forma tradicional que sempre foi”, perdeu-se. “As pessoas acham natural você abordar um desconhecido numa rede social, mas estranham puxar papo com alguém na rua. Não consigo entender o motivo.”
Ao unir as duas pontas, a necessidade de interlocução para sua arte e a vontade de criar um paliativo particular para essa esquizofrenia social, Mariana teve o insight de passar suas tardes de sábado a bater papo, enquanto desenha, naquele ponto da Paulista. Mariana ri de quem a critica por não “ganhar nada” com isso. “Ganho muita coisa, as histórias, carinho, tudo o que aprendo e o que sinto quando me vejo útil a alguém.” De velhinhos a crianças, de verborrágicos a caladões, Mariana interagiu com todo tipo de gente. Alguns mendigos também se aproximaram, mas não a ponto de se sentarem na cadeira de praia que ela coloca à disposição do eventual interlocutor, possivelmente por não se considerarem dignos para tal. Mas a uma distância respeitosa, um deles não resistiu e elogiou a iniciativa. “As pessoas precisam muito disso”, comentou o homem. Mariana o presenteou com uma de suas pinturas, e o mendigo soube ser grato. “Quando eu tiver uma casa, vou pendurar na minha parede”, prometeu.
Um belo exemplo de que não se precisa de muito para ajudar. Muitas vezes, apenas ser ouvido pode fazer diferença no dia de uma pessoa.
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